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Dois postais de Viena

O papel é duro como mármore 

Seguindo as indicações de Cláudio Magris, e atravessando Rossauer Brücke, chegamos a Rembrandtstraße. É uma rua relativamente pequena, cinzenta e silenciosa. Em quase todas as entradas, há placas em mármore ou bronze a lembrar os nomes de cidadãos judeus que foram deportados durante o nazismo. São dezenas e dezenas de nomes, famílias inteiras. No número 35, viveu Joseph Roth. É uma das raras entradas onde não existe qualquer placa. Também não há qualquer referência à passagem de Roth por aqui. Seja como for, uma página de papel com o seu nome será sempre tão sólida e duradoura como uma placa de mármore.
 




Uma pedra e uma trepadeira

O túmulo de Karl Kraus fica próximo de uma das portas secundárias do gigantesco cemitério central de Viena, o Wiener Zentralfriedhof, muito longe dos túmulos de Schubert ou Beethoven. Uma pedra de granito, intencionalmente mal esculpida, exibe apenas o nome. Não há indicação das datas de nascimento ou morte. A campa está coberta por uma densa e tenaz trepadeira, que só à força se conseguiria arrancar. Não existe mais nada. É justo. Uma pedra e uma trepadeira. Podiam escrever-se mil ensaios e nenhum definiria melhor Karl Kraus.


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