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Poesia do real

Breves notas sobre a poesia de Manuel Resende IV

Toda a poesia é do real. Toda a poesia é do quotidiano. Sentir e pensar são reais. O absoluto e o relativo são reais. O bem e o mal. Deuses e demónios também são reais. O sonho é real. O mistério é real. Os pequenos acontecimentos são reais. São reais as cidades, as aldeias, os campos, os cafés, as filas de trânsito, as salas de espera dos hospitais, o turismo. São reais o crime, o genocídio, o fogo amigo, os danos colaterais. Os bancos, as taxas de juro, a dívida. O suicídio é real. A história também. É tudo tão real que o mundo é uma ferida aberta em cada um de nós. E o pouco alívio que a poesia nos dá, não é pouco, é muito.

Ocupamos um território de gestos apalpamos à nossa volta um estádio de liberdade
Passam mendigos sapateiros mulheres homens concretos mineralogia urbana em seus passos comedidos despidos até por dentro cauteleiros mancos por não poderem ser mais nada 
Que vêm aqui fazer por uns minutos a esta praça
Homens momentâneos
Soltam-se aos milhares do fim das ruas como animais assustados 
Saem da toca dum túnel dum teatro
Entro nos cafés nos bancos e eles cá estão obstinados
Olham-me um pouco Têm caras religiosas desconfiadas Roubaram-lhes um mapa um lago pequenos nadas uma infância São prostitutas ou ciganos desertores de todos os desertos etc. Fazem a sua ginástica quotidiana um ritual severo Entro aqui e ali aparto a insolência destas mulheres sentadas Olho para o lado
(Tratado de Urbanística.)

Comentários

Nataline disse…
Tão giro. Estou a visitar blogues pois só agora me iniciei como blogueira e gostaria de ter muitos blogues amigos. Faço-me seguidora, agradecendo a retribuição. Obrigada pelo carinho.
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* Olhares e Deslumbres *
Um feliz Sábado.