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A máquina

A máquina inimiga para Chaplin é sobretudo sinal de desumanização, na taylorização imposta pela indústria concorrencial, reduzindo o homem-operário a uma escravatura minuciosamente contabilizada, em tempos e gestos repetidos até à paranóia. O riso que tal situação desperta no espectador é horrivelmente condicionado pela sua própria experiência, de profissão em profissão - e se é a técnica que faz o homem, e não, em última análise, o meio social, o operário americano não se distingue, psicossocialmente, do operário soviético, em transes de Stakhanovismo... A frieza com que Tempos Modernos foi recebido nos Estados Unidos não foi, assim, diferente da suspeição que acompanhou o filme na Rússia, mesmo que a crítica oficiosa com algum mal-estar, procurasse distinguir as duas situações sociopolíticas, reduzindo a americana o destino da mensagem chapliniana. (...)
A máquina constitui, na economia do filme, e na proporção da suas cenas, articuladas de gags em gags, a sua parte essencial: uma máquina incomensurável e monstruosa que esmaga Charlot - e que não só não está ao serviço do homem como para nada serve, nela própria se satisfazendo, em ser poder tautogénico, como Na Colónia Penal de Kafka, vinte anos antes, foi minuciosamente descrita.

José-Augusto França, O essencial sobre Charles Chaplin.


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